quinta-feira, 9 de julho de 2009

Saudades do Sertão

Quem já habitou no sertão
Teve chance igual a mim
De brincar e comer doce
De boneco de alfinim
De tomar água do pote
Pegar preá no serrote
Tanger porca e bacurim

Lembro como sendo agora
Da minha infância querida
Da pescaria no açude
Da arribação na bebida
Quem quiser mudar que mude
Eu peço a Deus que me ajude
Que eu me lembre toda vida

Cheiros e cores, eu guardo
Com o som de amolar peixeira
O rio botando a cheia
Que comia a ribanceira
Eu não consigo esquecer
O suave alvorecer
E o prazer da brincadeira

O pote d’água friinha
Só me traz recordação
Do caneco de alumínio
Que segurava na mão
O mesmo que sem enfeite
Usava pra tomar leite
Escorado no mourão

Quem estiver me ouvindo
E achar meu modo estranho
Vai continuar achando
E eu, o mesmo de antanho,
Lá do tempo da quartinha,
Da deitada da galinha
E do mugir do rebanho

Tem gente que hoje em dia
Pergunta como é que pode
O cabra sentar a bunda
No couro vindo do bode
Mas o que não acredita
È o mesmo que se irrita
E que facilmente explode

É gente que nunca foi
Na casinha eliminar
O que comeu no almoço
Ou digeriu do jantar
Com moscas zunindo perto
E um porquinho esperto
Acolá fora a fuçar

Outra figura retida
Nos meus lobos cerebrais
Revela o cavalo pampo
De tempos memoriais
Num momento esquipando
Em seguida se espojando
Revelando muito mais

Lembro a tarde enevoada
Que trazia um tom cinzento
Lembro que às cinco da tarde
Vinha o zurrar do jumento
Pra marcar a hora certa
Como um grito de alerta
Ecoando no firmamento

Naquela altura, o matuto,
Com seu jeito mais banzeiro,
Cortava o fumo de rolo,
Para um cigarro brejeiro,
E enquanto o tempo passava,
No silêncio meditava
Com feitio beradeiro

A chuva mal começava
A meninada partia
Pra debaixo das biqueiras
Por onde a água escorria
E depois na enxurrada
Morria de dar risada
Extravasando alegria

Em poucos dias se via
O frescor da natureza
Com babugem suscitando
Orvalho, pasto e beleza,
Com capim novo brotando,
Os animais ruminando
E o povo olhando a proeza
Para acender mais a chama
Lembrei-me do lampião
Que com pouco mais que nada
Livrava da escuridão
Pois quando anoitecia
Logo na Ave-Maria
Iluminava o salão

Quando era noite de lua
Todo mundo se juntava
Pra jogar conversa fora
E ver quem mais se gabava
Tinha estória cabeluda
Que juntava Cristo e Buda
Na debulhada da fava

Estória de lobisomem
E de mula sem cabeça
ouvindo quando pequeno
não há quem disso se esqueça
mais estórias de Camões
Repletas de gozações
Pra que Bocage apareça

Cada um contando as suas
Estórias de padre e monge
Umas mais apimentadas
Com um tributo a Camonge
Mostrando a cada humor puro
Que uma tocha no escuro
Ilumina bem mais longe

Tinha o grupo do alpendre,
De João, Josefa e Zeca,
Tinha outro no salão
Disputando na sueca
Era um jogo esticado
Que se fosse apostado
Nêgo perdia a cueca

Aqui, acolá, uma pinga
Com piaba na fritada
Batata doce cozida
Pra toda rapaziada
O problema que havia
Era, às vezes, dar azia
Ou, então, barriga inchada

Tinha noite que se via
O relâmpago cortando
As nuvens bem carregadas
Iam logo se juntando
E o clarão do relampeio
Anunciando no meio
O corisco se alastrando

No outro dia, bem cedo,
Todo mundo levantava
Para ver o resultado
Depois que a chuva passava
Via-se poça e orvalho
Um frescor em cada atalho
Por onde se caminhava

O agricultor sorria
A criançada pulava
Todo mundo percebia
Que a natureza mudava
Pois de verde se vestia
E a partir daquele dia
O plantio começava

Muita gente se perdia
Na plantada pioneira
Pois precisava do santo
Que regulava a torneira
O São José, padroeiro,
No ofício de inverneiro,
Virava assunto na feira

Ah, lembranças do sertão
Bem sofrido, é verdade,
Mas um torrão da essência
Da minha realidade
Onde antes, banhei no rio,
De manhãzinha com frio,
Hoje, ardo de saudade!

Marcos Medeiros
Publicado no Recanto das Letras em 22/02/2009
http://recantodasletras.uol.com.br/cordel/1451703

terça-feira, 7 de julho de 2009

São Seridó Amado

Moxotó, camará, catingueira
Sustentam a vida
A chuva acorda a terra num
Odor de zimbro e chumbo
Meu sertão caritó




Sobrado Padre Guerra (Caicó/RN)



Serra Negra, Acari.
Caicó e Jardim do Seridó
Thomas- o filho- cronista
De homens-ferros,
Cachimbos, galegos
Judeus e Portugueses
A rede suspende a vida – letargia -morte
Meu avô morreu de cezão aos 33 anos
Meu bisavô mestre-escola
Minha avó dormia só uma madorna e
Faleceu de arteriosclerose.
Vivendo estamos doendo
Não há fim para essa lembrança.
Engenho torto
Açúcar o sangue
Chouriço espécie
O sol a carne
Queijo de coalho e lingüiça
Fu-deu? Não, não foi Deus
Ninguém entende
Sefus gões
Quadrivium
Guerra- o Padre
Sant´anna;
ensina
esse menino!






DaMata

sábado, 4 de julho de 2009

PAISAGEM SERTANEJA

Resolvi colocar esta foto como homenagem a NATUREZA que produziu tamanha beleza em pleno sertão, ao pé da serra de Luís Gomes (RN). Lamentavelmente no ano de 2007 este belíssimo Pau D´arco sucumbiu mortalmente a um cupim e formigueiro. Tombou com toda a sua envergadura de mais de dez metros. Restou para nós a lembrança através da foto realizada por Clésia no mês de junho do ano de 1996. Aos moradores Lécio (Francisco Clementino), Télho (José Clenilson) e Raimundo Marinheiro cumpriram sua sentença de cremação e enterro das cinzas. A Serra vista no fundo - um pouco à direita é a cidade de Luís Gomes, com a Senhora Santana abençoando este recanto que hoje é preservado com a cultura do milho e da manutenção das duas construções (casa da Fazenda Sanharó onde morou Severino Pedro/D.Cléa e armazém da Fazenda).